AS METODOLOGIAS DO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
(Resumo de Ilázaro Figueiredo Nazario)


Este texto tem por objetivo apresentar, brevemente, os principais métodos (ou
abordagens) para o ensino de línguas estrangeiras, levantando alguns dos aspectos históricos
que favoreceram a formulação/estruturação de cada um deles, bem como suas principais
características.

Histórico dos métodos

O método da gramática e tradução (AGT) surgiu com o interesse pelas culturas grega e
latina na época do renascimento e continua sendo empregada até hoje.

O método/abordagem direto(a) (AD) é quase tão antigo quanto a AGT, surgiu como uma reação a este
e evidências de seu uso datam do início do século XVI.

O método/abordagem da leitura (AL) expandiu pelas escolas secundárias dos Estados Unidos na
década de 1930, tendo permanecido até o fim da II Guerra Mundial.

O método/abordagem audiolingual (AAL) foi uma reação dos próprios americanos contra a AL;
surgiu durante a II Guerra Mundial quando o exército americano precisava de falantes
fluentes de várias línguas estrangeiras e não os encontrou, a solução foi produzir esses
falantes de maneira mais rápida possível.

O método natural (MT) tenta explicar na sala de aula a teoria de Stephen Krashen, conhecida como Modelo do Monitor ou Modelo de Input.

O método funcional ou abordagem comunicativa (AC) surgiu nos anos da década de 70
e ganhando força total nos anos 80; procurou, com seu enfoque, não ser extremista. A maior
preocupação com o uso da língua como comunicação surgiu a partir de pesquisas mais
recentes nas áreas de psicolingüística, sociolingüística, filosofia da linguagem e teoria da
informação. O equilíbrio visado apoia-se no conceito da competência comunicativa, que
encara a realidade lingüística como algo formalmente possível, viável, adequado ao contexto
e realmente factível (isto é, que pode ser feito).

Algumas características dos métodos

O Método da Gramática e Tradução (AGT)
É sempre um processo dedutivo, partindo da regra para o exemplo. Basicamente, esse
método consiste no ensino da segunda língua pela primeira. Toda informação necessária
para construir uma frase, entender um texto ou apreciar um autor, é dada através de
explicação na língua materna do aluno. Os três passos essenciais para aprendizagem da língua: a) memorização prévia de uma lista de palavras; b) conhecimento das regras
necessárias para juntar essas palavras em frases; c) exercícios de tradução e versão.
Principais características:
1. as aulas são ministradas na língua materna do aluno, havendo pouco uso ativo da línguaalvo;
2. os alunos deverão ter domínio da terminologia gramatical e o conhecimento profundo
das regras do idioma com todas as suas exceções;
3. a leitura dos textos clássicos difíceis é feita em estágios iniciais;
4. a tradução da língua-alvo para a língua materna é um exercício típico;
5. pouca atenção é dada ao conteúdo dos textos, que são tratados como exercício de análise
gramatical;
6. pouca ou nenhuma ênfase é dada a pronúncia;
7. não é preciso que o professor saiba falar a língua-alvo.

O Método Direto
O princípio fundamental do método direto é de que a língua-alvo se aprende através da
língua-alvo. Com isso, a língua materna nunca deve ser usada na sala de aula. A transmissão
do significado dá-se através de gestos, mímicas e gravuras, sem jamais recorrer à tradução
para a língua materna. O aluno deve aprender a “pensar na língua-alvo”.
A ênfase está na língua oral, mas a escrita pode ser introduzida já nas primeiras aulas.
O uso de diálogos situacionais e pequenos trechos de leitura são o ponto de partida para
exercícios orais e escritos. Assim é usada pela primeira vez no ensino de línguas
estrangeiras a integração das quatro habilidades: ouvir, falar, ler e escrever.
O aluno é primeiro exposto aos “fatos” da língua para mais tarde chegar a sua
sistematização. O exercício oral deve preceder o escrito. A técnica da repetição é usada para
o aprendizado automático da língua. O uso de diálogos sobre assuntos da vida diária tem por
objetivo tornar viva a língua usada na sala de aula. O ditado é abolido como exercício.
Principais características:
1. as lições começam com diálogos e anedotas breves, em estilo moderno de conversação;
2. ações e ilustrações são usadas para esclarecer o significado desse material;
3. não é permitido o uso da língua materna, o que significa que a tradução para a língua
materna do aluno é abolida;
4. o professor não precisa saber falar a língua materna do aluno. Portanto, ele deve ser um
nativo ou fluente na língua-alvo;
5. a gramática é ensinada indutivamente e regras de generalização surgem da experiência;
6. alunos avançados lêem textos literários por prazer e os textos não são analisados
gramaticalmente.

O Método da Leitura
O objetivo desse método é desenvolver a habilidade da leitura. Para isso, procura-se
criar o máximo de condições que propiciem a leitura, tanto dentro como fora da sala de aula.
Como o desenvolvimento do vocabulário é considerado importante, trata-se de expandi-lo o
mais rápido possível. Nas primeiras lições é cuidadosamente controlado o vocabulário, uma média de seis palavras novas por páginas, baseadas nas estatísticas de freqüência.
Predominam os exercícios escritos, principalmente os questionários baseados em textos.
A gramática restringe-se ao necessário para a compreensão da leitura, enfatizando os
aspectos morfológicos e construções sintáticas mais comuns. Os exercícios mais usados para
a aprendizagem da gramática são os de transformação de frases. Ocasionalmente, exercícios
de tradução para a língua materna são utilizados.
Principais características:
1. somente é ensinada a gramática relevante e útil para a compreensão da leitura;
2. atenção mínima é dada à pronúncia. A única habilidade desenvolvida é a de leitura e
compreensão de textos, embora a linguagem oral não é totalmente banida;
3. a tradução para a L1 (língua materna) ganha lugar de destaque;
4. o professor não precisa ter boa fluência oral da língua-alvo;
5. o vocabulário é rigorosamente controlado para ser expandido mais tarde.

O Método Audiolingual
Esse método baseia-se nas seguintes premissas: a) língua é fala, não escrita; b) língua é
um conjunto de hábitos; c) ensine a língua, não sobre a língua; d) a língua é o que os falantes
nativos dizem, não o que alguém acha que eles deveriam dizer; e) as línguas são diferentes.
A partir disso, o aluno só deve ser exposto à escrita quando os padrões da língua oral já
estiverem bem automatizados, porque, para os estudiosos dessa área, a escrita é uma
fotografia muito mal feita da fala. Por outro lado, o aluno não aprende errando, pois, nessa
concepção metodológica, acredita-se que quem erra acaba aprendendo os próprios erros. O
que vale afirmar que um aluno aprende uma língua pela prática, não através de explicitações
ou explicações gramaticais. A tarefa primordial do planejamento de cursos é detectar as
diferenças entre a primeira e a segunda língua, concentrando-se aí as atividades.
Pode-se dizer que é o método dos DRILLS, que consiste em apresentar um modelo oral
para o aluno, seja através de fitas gravadas ou pelo próprio professor, seguido de intensa
prática oral.
Principais características:
1. o aluno deve primeiro OUVIR, depois FALAR, e então LER, para finalmente
ESCREVER na L2;
2. baseia-se na análise contrastiva entre a língua materna (L1) e a língua-alvo (L2);
3. o material novo é apresentado sob forma de diálogo;
4. depende-se da mímica, da memorização de um conjunto de frases e da aprendizagem
intensiva através da repetição, pois acredita-se que a língua é aprendida através da
formação de hábitos do tipo S – R – R (estímulo – resposta – reforço);
5. há uma seqüência nas estruturas gramaticais, que são aprendidas uma de cada vez;
6. há pouca ou nenhuma explicação gramatical; a gramática é ensinada indutivamente;
7. nos estágios iniciais, o vocabulário é rigorosamente controlado e limitado. E a pronúncia
é enfatizada desde o início;
8. há um grande empenho em se evitar que os alunos cometam erros;
9. há o uso insistente de fitas gravadas, laboratório de línguas e material visual. As
respostas certas são automaticamente reforçadas positivamente;
10.é permitido o uso controlado da língua materna do aluno;
11.pode-se comparar o professor a um treinador de animais, como um papagaio, por
exemplo;
12.dá-se importância ao aspecto cultural da língua-alvo (L2);
13.há grande tendência em se manipular a linguagem sem preocupação com o conteúdo.

O Método Natural
Esse método tem por objetivo desenvolver a aquisição (uso inconsciente das regras
gramaticais) da língua em vez da aprendizagem (uso consciente). Dessa forma, a fala surgirá
naturalmente, sem pressão do professor.
A premissa básica é que o aluno deve receber um INPUT lingüístico quase totalmente
compreensível, de modo a ampliar sua compreensão da L2.
Características principais:
1. a pronúncia não é enfatizada e encara-se a perfeição como uma meta não realística;
2. o aluno é responsável pela própria aprendizagem;
3. a gramática é ensinada indutivamente;
4. os erros são vistos como algo inevitável, algo que pode ser usado construtivamente no
processo de ensino;
5. espera-se do professor tanto uma boa proficiência geral da língua-alvo (L2) como
habilidade de analisar a língua.

O Método Funcional ou Comunicativo
Defende a aprendizagem centrada no aluno, não só em termos de conteúdo, mas
também de técnicas usadas em sala de aula. O professor deixa de exercer seu papel de
autoridade, de distribuir conhecimento para assumir o papel de orientador. O aspecto afetivo
é visto como uma variável importantíssima no processo, e o professor deve mostrar interesse
nos anseios dos alunos, encorajando-os a participação e acatando as sugestões.
Nesse método não existe ordem de preferência na apresentação das habilidades (ouvir,
falar, ler, escrever e compreender) nem restrições maiores quanto ao uso da língua materna.
Em cursos gerais as habilidades são trabalhadas de modo integrado, mas dependendo dos
objetivos poderá haver concentração em uma só.
Características principais:
1. dá-se maior importância às necessidades de comunicação do aluno, como por exemplo,
sugerir, optar, opinar etc.;
2. as funções são apresentadas em situações que modificam essas necessidades (exemplo –
como se dirigir a uma balconista para solicitar informação); enfim, dá-se ênfase ao modo
de como usar determinada forma para se atingir determinada necessidade da
comunicação;
3. o material de ensino baseia-se muito mais no aluno e, em relação aos outros métodos,
reflete com maior precisão o uso natural da língua;
4. há uma participação ativa do aluno no processo de aprendizagem através de
dramatizações, trabalhos em grupo etc.

Breves considerações

Seja qual for o caminho metodológico escolhido pelo professor, é preciso que o
processo de ensino e aprendizagem da língua forneça ao aluno um propósito, uma intenção
comunicativa, uma necessidade de transmitir informação, de estabelecer vínculos e conviver
de maneira solidária e harmoniosa com os outros. Pois, as inúmeras variáveis que afetam a
situação de ensino podem ultrapassar a metodologia usada, de modo que o que parece
funcionar numa determinada situação não funciona em outra e vice-versa. Além disso,
muitas vezes, dá-se a metodologia uma importância maior da que ela realmente possui,
esquecendo-se de tanto o professor quanto os estudantes, no processo da convivência, são
capazes de juntos construírem conhecimentos, podendo deixar de aprender como também
aprender, apesar do método escolhido. Assim, inspirada na concepção educacional do
professor Dante Augusto Galeffi, a solução é buscar sempre por uma metodologia própria e
apropriada.Própria por ser a síntese da produção desses sujeitos da aprendizagem e da
informação; e apropriada porque é adequada ao contexto e, principalmente, porque os seus
autores já apreenderam-na conscientemente.

BIBLIOGRAFIA:
FREEMAN, Dione Larsen. Techiniques and Principlies in Language Teaching. Oxford University
Press. N. York, 1986.
GALEFFI, Dante Augusto. O Ser-sendo da Filosofia. Salvador: Edufba, 2001.
LARSEN-FREEMAN, Diane. An introduction to second language acquisition research. London:
Longman, 1991.
LEFFA, Vilson J. & PAIVA, Maria da Graça G. O processo de aprendizagem de uma língua / The
foreign language learning process / Porto Alegre/ Brasília: Ed. Universidade/UFRGS/ The British
Council, 1993.
LITTLEWOOD, William T. Foreign and Second Language Learning: Language-acquisition research and
its implications for the classroom. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
RICHARDS, Jack C. & RODGERS, Theodore S. Approaches and Methods in Language Teaching: A description and analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1986.

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