INTERFERÊNCIA, INTERLÍNGUA E FOSSILIZAÇÃO

Ricardo Schütz
Atualizado em 1 de julho de 2006

As English becomes the chief means of communication between nations, it is crucial to ensure that it is taught accurately and efficiently, ...David Crystal

Em lingüística e, mais especificamente no estudo do aprendizado de línguas, o conceito de interlíngua é sempre estudado em paralelo aos conceitos de interferência e fossilização.

Transferência é o aproveitamento de habilidades lingüísticas prévias no processo de assimilação de uma língua estrangeira. Ocorre predominantemente entre línguas com alto grau de semelhança.

Interferência é a ocorrência de formas de uma língua na outra, causando desvios perceptíveis no âmbito da pronúncia, do vocabulário, da estruturação de frases bem como no planos idiomático e cultural. A interferência é a principal característica da interlíngua e da fossilização.

Interlíngua é o sistema de transição criado pelo aprendiz, ao longo de seu processo de assimilação de uma língua estrangeira. É a linguagem produzida por um falante não nativo a partir do início do aprendizado, caracterizada pela interferência da língua materna, até o aprendiz ter alcançado seu teto na língua estrangeira, ou seja, seu potencial máximo de aprendizado.

Fossilização ou cristalização, refere-se aos erros e desvios no uso da língua estrangeira, internalizados e difíceis de serem eliminados. É característica de quem estuda línguas, especialmente na infância, sem ter contato com falantes nativos.

In the absence of a good target language model, the result may be a terminal classroom pidgin.

Interlíngua ao longo do aprendizadoA interlíngua se caracteriza pela interferência da língua materna. Formas da língua materna inevitavelmente aparecem no linguajar usado pelo aprendiz. A ocorrência e a persistência de interlíngua é significativamente maior em adultos do que em crianças. De acordo com Harpaz, aquele que aprende uma segunda língua, além de ter que executar seqüências de operações mentais (estruturar a idéia) e motoras (articular sons) novas, precisa também evitar os velhos hábitos da língua materna. As operações relativas à língua mãe estão profundamente enraizadas pela prática constante, sendo por isso muito difíceis de serem evitadas. Por esta razão, adultos aprendizes de línguas estrangeiras acham muito difícil não cair nas formas da língua materna, tanto nas operações motoras de pronúncia quanto nas operações mentais de estruturação das idéias em frases. Para uma criança, este problema é muito menor porque seus hábitos lingüísticos não se encontram tão desenvolvidos e enraizados.

Dependendo da intensidade de exposição à língua estrangeira, bem como do modelo de performance a que o aprendiz estiver exposto, sua interlíngua será mais ou menos acentuada, isto é, apresentará um maior ou menor grau de interferência da língua materna, como mostra o gráfico ao lado.

Se a intensidade de exposição à língua estrangeira for insuficiente, a interlíngua persistirá por mais tempo, causando uma tendência maior à fossilização dos desvios. Isto porque as necessidades de comunicação na língua estrangeira enfrentadas pelo aluno podem exigir uma freqüente produção de linguagem imprecisa, que se não for contrabalançada e sobrepujada por input autêntico, acabará causando uma internalização prematura de formas da interlíngua, isto é, a fossilização dos desvios que a caracterizam.

Além disso, se o modelo de performance da língua estrangeira não for autêntico, isto é, se o professor não tiver um nível de proficiência equivalente à de um nativo, o aprendiz já estará assimilando desvios que caracterizam a interlíngua, causando uma tendência maior à fossilização dos mesmos.

Assim como um artista precisa de um modelo real constantemente ao alcance de seus olhos para captar as formas, luzes e cores da realidade que procura retratar, assim o aluno precisa de um ambiente autêntico de língua e cultura estrangeira para uma assimilação mais pura. A afinação de um instrumento nunca será perfeita se o diapasão já estiver desafinado.

When fluency is emphasized at the expense of accuracy, the result may also be a terminal classroom pidgin.

 

CONCLUSÕES:

  • Qualidade de performance do modelo: Quanto maior o grau de qualidade e autenticidade do input recebido, tanto menor a interferência e a possibilidade de formação de interlíngua. Em outras palavras, é importante que o instrutor tenha domínio equivalente ao de língua materna, principalmente quando os aprendizes forem crianças e adolescentes.
  • Tamanho do grupo: Grupos de treinamento em língua estrangeira terão êxito inversamente proporcional ao tamanho do grupo. Quanto maior o grupo, menor a exposição ao modelo correto de performance do instrutor e maior a exposição à interlíngua dos demais participantes.
  • Intensidade: Quanto mais intensa a exposição à língua estrangeira e quanto mais rápido o processo de assimilação, tanto menor a duração da interlíngua e a possibilidade de fossilização de seus desvios. Em outras palavras, programas intensivos preservam melhor o potencial do aluno. Melhor ainda é a imersão proporcionada pelos programas de inglês no exterior.
  • Vulnerabilidade dos extrovertidos: Alunos extrovertidos, aqueles mais afoitos, que buscam um canal de comunicação mesmo sem disporem da habilidade necessária, estarão mais vulneráveis à formação de interlíngua e à fossilização de desvios. Extroversão é uma qualidade positiva para o aprendizado de línguas pois impulsiona uma maior produção oral da língua estrangeira. Precisa entretanto ser acompanhada de input autêntico e intenso.
  • Metodologias de risco: Métodos de ensino/aprendizado que não incluem contato freqüente com modelos de performance autênticos, em situações reais de interação humana, são de validade questionável. Por exemplo, estudo da língua só através de textos, métodos autodidáticos, à distância, cursos atrelados a planos didáticos seqüenciais tipo Livro 1, 2, 3 e emprego de instrutores sem plena proficiência.

INTERLÍNGUA PORTUGUÊS > INGLÊS (ERROR ANALYSIS)

A interlíngua criada por brasileiros que estudam inglês como língua estrangeira, que em linguagem comum se chamaria de "inglês aportuguesado", tem características próprias. Através de um estudo comparativo das duas línguas, e através da análise dos erros comumente praticados por falantes nativos de português, pode-se explicar e prever esta interferência. Um estudo desta natureza deve abranger pelo menos três áreas: pronúncia, vocabulário e sintaxe.

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