COMPETÊNCIAS E HABILIDADES

 

O ensino no Brasil, apesar de tantas inovações tecnológicas levadas à sala de aula, ainda centra-se na aquisição de conteúdos. É o professor o centro do processo de ensino-aprendizagem. 

Eis o paradigma que ainda norteia o processo ensino-aprendizagem em nossas escolas: o professor é colocado na posição daquele que "possui" o conhecimento e sua tarefa é "transmiti-lo" aos alunos. Embora já faça parte do discurso escolar de que não se aprende apenas na escola, a prática pedagógica revela a crença presente no interior das instituições escolares de que a aquisição de conhecimentos válidos  passa pela somente pela escolaridade.

Será que isso basta para atender as necessidades da sociedade atual e também do aluno que nela vive?

Estudiosos contemporâneos, afirmam, que as transformações pelas quais a sociedade está passando, estão criando uma nova cultura e modificando as formas de produção e apropriação dos saberes.

Caberia então aos professores mediar a construção do processo de conceituação a ser apropriado pelos alunos, buscando a promoção da aprendizagem e desenvolvendo habilidades importantes para que eles participem da sociedade  que muitos estão chamando de "sociedade do conhecimento".

O professor é um elemento chave na organização das situações de aprendizagem, pois compete-lhe dar condições para que o aluno "aprenda a aprender", desenvolvendo situações de aprendizagens diferenciadas, estimulando a articulação entre saberes e competências.  Reafirma-se, assim, a aprendizagem como uma construção, cujo epicentro é o próprio aprendiz. 

 Teríamos dessa maneira:  o processo de desenvolver habilidades através dos conteúdos. Em lugar de continuar a decorar conteúdos, o aluno passará a exercitar habilidades, e através delas, a aquisição de grandes competências.

A grosso modo, podemos dizer que, o que levará, efetivamente, ao bom êxito do programa, será a capacitação dos professores, para que possam atuar com desenvoltura e segurança em relação à nova proposta.

 O que vem ocorrendo no ensino é uma dependência muito grande do professor em relação ao livro didático, em detrimento de sua própria função em sala de aula. Daí, na presente orientação, a responsabilidade cair sobre o professor, independentemente do livro.

 Fica evidente nesta proposta a necessidade da existência de uma atividade construtiva sobre os objetos do conhecimento, desse modo, cumprindo a função primordial da escola que é a de ensinar, agindo e intervindo para que os alunos aprendam o que sozinhos não teriam condições de fazê-lo por si mesmos.

 Como conseqüência, teremos também uma necessária mudança no conceito do que é ensinar. O que predomina é o conceito de ensino enquanto informação, apoiado numa relação passiva professor-aluno, que na maioria das vezes por meio do livro didático, "transmite" as informações para o aluno, que normalmente as repetem, sem conseguir associá-las a uma interpretação e ligação com a realidade, que forneça sentido ao próprio aprendizado. Daí, uma das grandes dificuldades que o aluno encontra para processar e transferir essas informações para diferentes campos do saber, ou para situações que exigem uma real compreensão de conceitos.

 

Competências/Habilidades

 

As competências/habilidades são inseparáveis da ação, mas exigem domínio de conhecimentos;

 

Competências se constituem num conjunto de conhecimentos, atitudes, capacidades e aptidões que habilitam alguém para vários desempenhos da vida;

 

Habilidades se ligam a atributos relacionados não apenas ao saber-conhecer mas ao saber-fazer, saber-conviver e ao saber-ser;

 

 As competências pressupõem operações mentais, capacidades para usar as habilidades, emprego de atitudes, adequadas à realização de tarefas e conhecimentos;

 

Algumas Competências/Habilidades:

 

Respeitar as identidades e as diferenças;

Utilizar-se das linguagens como meio de expressão, comunicação e informação;

Inter-relacionar pensamentos, idéias e conceitos;

Desenvolver o pensamento crítico e flexível e a autonomia intelectual;

Adquirir, avaliar e transmitir informações;

Compreender os princípios das tecnologias e suas relações integradoras;

Entender e ampliar fundamentos científicos e tecnológicos;

Desenvolver a criatividade;

Saber conviver em grupo;

Aprender a aprender

 

 

Qual a diferença entre Competências e Habilidades?

 

De acordo com o professor Vasco Moretto, doutorando em Didática pela Universidade Laval de Quebec/Canadá:

 

" As habilidades estão associadas ao saber fazer: ação física ou mental que indica a capacidade adquirida. Assim, identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar,julgar, correlacionar e manipular são exemplos de habilidades.

Já as competências são um conjunto de habilidades harmonicamente desenvolvidas e que caracterizam por exemplo uma função/profissão específica: ser arquiteto, médico ou professor de química. As habilidades devem ser desenvolvidas na busca das competências."

 

"De que competências se está falando? Da capacidade de abstração, do desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento. Estas são competências que devem estar presentes na esfera social, cultural, nas atividades políticas e sociais como um todo, e que são condições para o exercício da cidadania num contexto democrático". PCN- Ensino Médio

 

As diretrizes do MEC explicitam 5 competências:

 

domínio de linguagens

compreensão de fenômenos

construção de argumentações

solução de problemas

e elaboração de propostas 

 

 

"Cabe ainda observar preliminarmente que as competências não eliminam os conteúdos, pois que não é possível desenvolvê-las no vazio. Elas apenas norteiam a seleção dos conteúdos, para que o professor tenha presente que o que importa na educação básica não é a quantidade de informações, mas a capacidade de lidar com elas, através de processos que impliquem sua apropriação e comunicação, e, principalmente, sua produção ou reconstrução, a fim de que sejam transpostas a situações novas". PCN - Ensino Médio

 

    

     Poderíamos dizer que uma competência permite a mobilização de conhecimentos para que se possa enfrentar uma determinada situação, uma capacidade de encontrar vários recursos, no momento e na forma adequadas. A competência implica uma mobilização dos conhecimentos e esquemas que se possui para desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos.

O conceito de habilidade também varia de autor para autor. Em geral, as habilidades são consideradas como algo menos amplo do que as competências. Assim, a competência estaria constituída por várias habilidades. Entretanto, uma habilidade não "pertence" a determinada competência, uma vez que uma mesma habilidade pode contribuir para competências diferentes

Percebemos então que o papel do professor tem que estar centrado em um foco diferente do tradicional transmissor de informações.

Torna-se necessária a contextualização daquilo que é desenvolvido em sala de aula. E, a meu ver, urge  educar para as competências,  e isso,  através da contextualização e da interdisciplinaridade. 

 Mais do que nunca urge uma ruptura com as práticas tradicionais e o avançar em direção a uma ação pedagógica interdisciplinar voltada para a aprendizagem do aluno - sujeito envolvido no processo não somente com o seu potencial cognitivo, mas com todos os fatores que fazem parte do ser unitário, ou seja, fatores afetivos, sociais e cognitivos.

 

O que é interdisciplinaridade? O que é contextualização?

 

Os conteúdos intercruzados e aqueles unificadores de temas constituem a mola mestra da interdisciplinaridade.

 

O interrelacionamento entre os conteúdos das disciplinas configura a interdisciplinaridade.

 

Os conteúdos impregnados da(s) realidade(s) do aluno demarcam o significado pedagógico da contextualização.

 

A contextualização imprime significados e relevância aos conteúdos escolares.

 

A interdisciplinaridade explicita conteúdos contextualizados

As  competências – que articulam conhecimentos, habilidades, procedimentos, valores e atitudes – indicam uma ruptura com ações e comportamentos que colocam a repetição e a padronização como marcos característicos da conduta escolar  e, para além disso, consubstanciam a necessidade de um novo modelo pedagógico.

Na educação, o ordenamento linear, seqüencial, mensurável, previsível e contínuo passa a assumir o caráter de organização em rede, pluralista, diverso, harmônico, flexível e processual (sempre em aberto). 

Nessa perspectiva , outro fator importante que necessita mudar é a Avaliação.

 

Sua concepção deve ser construída de modo a caracterizar:

 

Observância às competências propostas.

 

Predomínio dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do processo sobre os circunstanciais (testes e provas).

 

Inclusão da reorientação de estudos para os alunos com dificuldades de aprendizagem.

 

Acompanhamento processual a respeito do desenvolvimento do educando.

 

Predominância dos aspectos formativos sobre os somativos.

 

Citando os Parâmetros: "O conceito de aprendizagem significativa, central na perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o trabalho simbólico de significar a parcela da realidade que se conhece. As aprendizagens que os alunos realizam na escola serão significativas na medida em que consigam estabelecer relações substantivas e não arbitrárias entre os conteúdos escolares e os conhecimentos previamente construídos por eles, num processo de articulação de novos significados"

 

Da instituição Escola se exige que explicite a sua função social e sua proposta educativa, indicando com clareza o perfil do cidadão que deseja preparar.

É necessário que as escolas tenham identidade como instituições de educação de jovens e que essa identidade seja diversificada em função das características do meio social e da clientela, diversificação que não significa fragmentação, mas respeito ao conhecimento dos alunos no que tange às diferenças do ponto de partida em que se encontram.

 

Vera Lúcia Camara Zacharias é mestre em Educação, Pedagoga, consultora educacional, assessora diversas instituições, profere palestras e cursos, criou e é diretora do CRE.

 

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