UMA REFLEXÃO SOBRE O LUGAR DO PROFESSOR

NA EDUCAÇÃO NACIONAL

 

Professor Ilázaro Figueiredo Nazario

10/02/2008

 

O que resta de bom para o professor brasileiro considerando que a sua própria realidade histórica não o convence de que bons tempos virão na sua desafiante profissão? Resta, talvez, um entusiasmo esperançoso e mesmo fantasioso para aqueles que não conhecendo a história da educação nacional, acabam acreditando no discurso oficial segundo o qual ‘educação é prioridade’. Na realidade prioridade nunca foi.

Primeiro porque, tal como uma ex-colônia de exploração, a educação do nosso país teve suas bases fundadas no interesse da metrópole que era induzir os nativos a facilitarem e propagarem o sistema de dominação dos chamados “”descobridores”. A contra gosto de quem não defende esta tese fica a lembrança de como os índios foram reprimidos nas aldeias para cumprir a etapa de compreender a cultura portuguesa/dominante como superior, produzindo neles o conceito de aceitação imposta, algo que se repete nos dias atuais com as classes menos favorecidas, visando o estabelecimento da elite.

Mais adiante, com a chegada do império e da republica vieram às primeiras “escolas para brasileiros”, e, vejam que já não eram mais os índios os brasileiros e sim os brancos, os latifundiários oriundos da Europa, os dominadores. Assim, a população indígena e os escravos (os pobres) foram sendo excluídos do processo educativo nacional, porque educação era coisa de branco, para os ricos da época.

Mas, o tempo não parou, passaram-se séculos de mudanças educacionais. Surgiram inúmeros conceitos para educação como educação bancária, educação libertadora; surgiram grandes pensadores como Paulo Freire que pregou a pedagogia da libertação, mas até hoje, ninguém ficou livre de uma educação cujo modelo baseia-se num dos menores investimentos mundiais, pois o Brasil é um dos países que menos investem em educação em todo o mundo.

Durante todo este tempo, não bastasse todas filosofias e discursos destinados a justificar a inexistência de uma educação igualitária e eficiente para todos, surgiram, em âmbito nacional,  governos que verdadeiramente abusaram da ingenuidade do povo brasileiro quando o assunto é educação. Tornou-se rotina no país o mal fadado discurso da falta de recursos, a permanente política de desvalorização salarial do educador, bem como a falta de um gerenciamento especializado nas instituições de ensino. E, nas últimas décadas a educação brasileira ganhou uma estruturação nova, mas para obedecer ao FMI, não a nossa nação. O que interessa agora são os números. ‘Toda criança na escola’ este é o lema dos governos que se dizem preocupados com país. O problema deste lema é que ele pára em si mesmo, ou seja, nem as escolas, nem os educadores foram ou estão sendo instrumentalizados para cumprir esta meta. Como conseqüência disto, as escolas do país estão ficando cada vez mais repletas de alunos, na sua maioria com formação educativa deficiente e, aos professores é imposta a condição de educar qualitativamente os “números” que lotam sua sala de aula. Mas, estes mesmos professores, que carregam a educação nas costas, se quer são respeitados nem pelos governos e, muito menos pelos próprios alunos.

Entretanto, o discurso oficial é poderoso, todos somos induzidos a calar diante dele. O que há de mais triste neste contexto é que ainda não nasceu no educador brasileiro a noção exata do seu poder de transformação e, quando alguém defende este discurso, a proposta está sempre ligada a um futuro e não ao presente. É como se o professor apenas preparasse para um amanhã que simplesmente não chega. Há ainda uma dispersão e um desconhecimento permanente da maioria dos educadores nacionais sobre o seu próprio papel e sobre seus direitos. O trágico é que ele é pago exatamente para fazer com que os outros conquistem seus direitos, mas o dele mesmo parece supérfluo, pela desorganização que apresenta enquanto classe pensante no cenário nacional.

E, por esta verdadeira, mas compreensível passividade, o educador torna-se cada vez mais uma ferramenta do continuísmo. Já perdeu sua referência como cabeça pensante na sociedade, raramente chega a ser um “espelho” para o aluno e, está perdendo seu valor porque não consegue fugir da sua falta de auto-estima. Toda responsabilidade está nele, mas é um ser sem força intelectual, seu poder de persuasão esbarra-se nas suas necessidades e na crescente falta de valorização financeira. É um pobre pensante que mal pode opinar ou até mesmo questionar a elite dominante.

Na hora de exigir seus direitos ele se cala. Sua voz é tênue, está quase isolado sozinho no meio dos outros que com igual temor preferem isolar o coitado. É alguém cujos dados que apresenta sobre sua área não tem valor, a elite afirma duramente: “não é assim”. Todos questionam um professor, mas poucos estão preocupados com a sua vida, a sua rotina, suas contas para pagar. Há até quem diga que professor é pra ser voluntário porque ele deve ensinar somente pelo amor a sua profissão. E, o educador, na sua incapacidade, sozinho, com um monte de teorias utópicas, é até capaz de acreditar nisso.

Mas para finalizar, se sua tristeza for limitada pela sua sabedoria, cuja premissa natural é: “quem mais sabe, mais sofre e quem nada sabe vive sorrindo”, gostaria de acreditar que o discurso oficial jamais te convencesse de que a educação realmente está bem, de que o professor deve se doar à profissão tal como Cristo fez com os seus seguidores. Porque quase nada disto é verdade, a educação pode ter dado alguns passos e ter vivenciado algumas inovações, mas nosso barco ainda se encontra a deriva e se quisermos melhorar a nossa situação precisamos remar com os nossos próprios braços mesmo que ainda não saibamos qual será a direção.

 

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