DISCUTINDO AVALIAÇÃO ESCOLAR
Ilázaro Figueiredo

As propostas curriculares atuais, bem como a legislação vigente, primam por conceder uma
grande importância à avaliação, reiterando que ela deve ser: contínua, formativa e personalizada,
concebendo-a como mais um elemento do processo de ensino aprendizagem, o qual nos permite conhecer o resultado de nossas ações didáticas e, por conseguinte, melhorá-las.

Analisando-se as propostas pedagógicas das escolas, os planos escolares, os regimentos escolares, todos eles pertencentes ao plano das ordenações legais, pode-se afirmar que esse conceito de processo de avaliação encontra-se presente na maioria deles.

Essas idéias, presentes no papel e no discurso formal de muitos docentes, precisam, porém, concretizarem-se e desenvolverem-se para modificar as práticas cotidianas (as quais infelizmente divergem do discurso e dos papéis) para uma direção inovadora que traga um aumento da qualidade do ensino. "A visita às escolas, a leitura dos PPP (Projeto Político Pedagógico) e a análise dos índices de aprovação das escolas, nos têm mostrado o quanto é necessário a conjugação dos conceitos de educação/ensino-aprendizagem e avaliação. Temos percebido projetos interessantíssimos desenvolvidos nas escolas, mas com práticas avaliativas que não traduzem os avanços dos trabalhos pedagógicos realizados. 

Neste sentido, faz-se necessário uma reflexão mais profunda sobre a prática avaliativa das escolas municipais, subsidiada pelo diálogo com diferentes autores pesquisadores sobre a temática da avaliação, que possam iluminar as práticas avaliativas existentes nas escolas com vistas a aperfeiçoar as que caminham numa linha libertadora e redefinir as que consciente ou inconscientemente se caracterizam como práticas punitivas e freiadoras do processo de aprendizagem." (http://www.pjf.mg.gov.br/cfp/camaras_tematica/001.htm). "A prática pedagógica existente nas escolas brasileiras, no que se refere à avaliação da aprendizagem, deixa muito a desejar.

Faz-se necessário questionar os valores e princípios que fundamentam essa prática educativa ineficiente e responsável pelo fracasso escolar tão arraigada em nossos Estabelecimentos de Ensino. Os professores, apesar de tantas informações a respeito do sistema de avaliação, ainda permanecem com posicionamentos seculares, construindo o contexto avaliativo à sua revelia." (http://www.faculdadepadrao.com.br/artigos/coordenacao1.php- Profª Leocy Fortes Gris) "(...) conceber e nomear o ' fazer testes', o 'dar notas', por avaliação é uma atitude simplista e ingênua! Significa reduzir o processo avaliativo, de acompanhamento e ação com base na reflexão, a parcos instrumentos auxiliares desse processo, como se nomeássemos por bisturi um procedimento cirúrgico". (Hoffmann, 2000: 53).

"Alguns teimam em entender por avaliação os tipos de provas, de exercícios, de testes, de trabalhos etc. Não compreendem a avaliação como um processo amplo da aprendizagem, indissociável do todo, que envolve responsabilidades do professor e do aluno.
Ao tratar a avaliação dessa forma, afastam-na de seus verdadeiros propósitos, de sua relação com o ensinamento, de seu aspecto formativo. 

O alargamento do conceito da Avaliação nos faz ver suas diversas faces e como o poder está associado à ela. Mostra o seu fim e os seus meios. Falar da Avaliação no âmbito da Educação Escolar, no campo da Educação de Direitos, nos leva pensar a sua função, o papel social do professor, a razão da existência da Escola. Traz a discussão sobre inclusão e exclusão, privilégios e direitos, direitos e obrigações, instrução e formação, que alunos queremos formar, que escola estamos construindo para a nossa sociedade. (OLIVEIRA, S. Roseli. MACEDO, Hercules. O professor e a avaliação; Avaliação Escolar." Disponível em: www.projetoeducar.com.br/avalia em fevereiro 1998).

Perrenoud (1999) coloca que “o sistema tradicional de avaliação oferece uma direção, um
parapeito, um fio condutor; estrutura o tempo escolar, mede o ano, dá pontos de referência,
permite saber se há um avanço na tarefa, portanto, se há cumprimento do seu papel” (p.156).
Para GIMENO (1995), quando avalia, o professor o faz a partir de suas concepções, seus valores,
expectativas e também a partir das determinações do contexto (institucional), sendo que muitas
vezes nem ele próprio tem muita clareza ou mesmo sabe explicitar estes dados considerados na
avaliação dos alunos. As avaliações realizadas nas escolas decorrem, portanto, de concepções diversas, das quais nem sempre se tem clareza dos seus fundamentos. O sistema educacional apoia-se na avaliação classificatória com a pretensão de verificar aprendizagem ou competências através de medidas, de quantificações. 

Este tipo de avaliação pressupõe que as pessoas aprendem do mesmo modo, nos mesmos momentos e tenta evidenciar competências isoladas. Ou seja, algumas, que por diversas razões têm maiores condições de aprender, aprendem mais e melhor. Outras, com outras características, que não respondem tão bem ao conjunto de disciplinas, aprendem cada vez menos e são muitas vezes excluídos do processo de escolarização.
No dicionário Aurélio, avaliar significa: determinar a valia ou o valor de; apreciar ou estimar o
merecimento de; determinar a valia ou o valor, o preço, o merecimento,calcular, estimar; fazer a
apreciação; ajuizar. Medir, significa: determinar ou verificar, tendo por base uma escala fixa, a extensão, medida, ou grandeza de; comensurar; ser a medida de.

O elemento chave da definição de avaliação implica em julgamento, apreciação, valoração, e
qualquer ato que implique em julgar, valorar, implica que quem o pratica tenha uma norma ou
padrão que permita atribuir um dos valores possíveis a essa realidade. Ainda que avaliar implique alguma espécie de medição, a avaliação é muito mais ampla que a medição ou a qualificação. A avaliação não é um processo parcial e nem linear. Ainda que se trate de um processo, está inserida em outro muito maior que é o processo ensino-aprendizagem e nem linear porque deve ter reajustes permanentes.
Transformar a prática avaliativa significa questionar a educação desde as suas concepções, seus
fundamentos, sua organização, suas normas burocráticas. Significa mudanças conceituais,
redefinição de conteúdos, das funções docentes, entre outras.

Neste momento, o que se propõe é uma reestruturação interna na escola quanto à sua forma de
avaliação. Necessita-se, sobretudo, de uma avaliação contínua, formativa, na perspectiva do
desenvolvimento integral do aluno. O importante é estabelecer um diagnóstico correto para cada
aluno e identificar as possíveis causas de seus fracassos e/ou dificuldades visando uma maior
qualificação e não somente uma quantificação da aprendizagem.

Avaliação Formativa
A avaliação formativa não tem como objetivo classificar ou selecionar. Fundamenta-se nos
processos de aprendizagem, em seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais; fundamenta-se
em aprendizagens significativas e funcionais que se aplicam em diversos contextos e se atualizam
o quanto for preciso para que se continue a aprender.
Este enfoque tem um princípio fundamental: deve-se avaliar o que se ensina, encadeando a
avaliação no mesmo processo de ensino-aprendizagem. Somente neste contexto é possível falar
em avaliação inicial (avaliar para conhecer melhor o aluno e ensinar melhor) e avaliação final
(avaliar ao finalizar um determinado processo didático).
Se a avaliação contribuir para o desenvolvimento das capacidades dos alunos, pode-se dizer que
ela se converte em uma ferramenta pedagógica, em um elemento que melhora a aprendizagem do aluno e a qualidade do ensino. Este, é para mim, o sentido definitivo de um processo de
avaliação formativa.

Qual deveria ser então o sentido e a finalidade da avaliação?

· Conhecer melhor o aluno: suas competências curriculares, seu estilo de aprendizagem,
seus interesses, suas técnicas de trabalho. A isso poderíamos chamar de avaliação inicial.
· Constatar o que está sendo aprendido: o professor vai recolhendo informações, de
forma contínua e com diversos procedimentos metodológicos e julgando o grau de
aprendizagem, ora em relação à todo grupo-classe, ora em relação a um determinado aluno
em particular.
· Adequar o processo de ensino aos alunos como grupo e àqueles que apresentam
dificuldades, tendo em vista os objetivos propostos.
· Julgar globalmente um processo de ensino-aprendizagem: ao término de uma
determinada unidade, por exemplo, se faz uma análise e reflexão sobre o sucesso
alcançado em função dos objetivos previstos e revê-los de acordo com os resultados
apresentados.
A partir destas finalidades a avaliação teria as seguintes características:

· A avaliação deve ser contínua e integrada ao fazer diário do professor: o que nos
coloca que ela deve ser realizada sempre que possível em situações normais, evitando a
exclusividade da rotina artificial das situações de provas, na qual o aluno é medidosomente
naquela situação específica, abandonando-se tudo aquilo que foi realizado em sala de aula
antes da prova. A observação, registrada, é de grande ajuda para o professor na realização
de um processo de avaliação contínua.
· A avaliação será global: quando se realiza tendo em vista as várias áreas de capacidades
do aluno: cognitiva, motora, de relações interpessoais, de atuação etc.e, a situação do
aluno nos variados componentes do currículo escolar.
· A avaliação será formativa: se concebida como um meio pedagógico para ajudar o aluno
em seu processo educativo.

Melhora do Processo Ensino-Aprendizagem
A avaliação não começa nem termina na sala de aula. A avaliação do processo pedagógico envolve
o Planejamento e o Desenvolvimento do processo de ensino. Neste contexto é necessário que a
avaliação cubra desde o Projeto Curricular e a Programação, do ensino em sala de aula e de seus
resultados (a aprendizagem produzida nos alunos).
Tradicionalmente, o que observamos é o processo de avaliação reduzir-se ao terceiro elemento: a
aprendizagem produzida nos alunos. No contexto de um processo de avaliação formativa isto não tem nenhum sentido. A informação sobre os resultados obtidos com os alunos deve
necessariamente levar a um replanejamento dos objetivos e conteúdos, das atividades didáticas,
dos materiais utilizados e das variáveis envolvidas em sala de aula: relacionamento professoraluno, relacionamento entre alunos e entre esses e o professor.
Segundo Hoffmann (2000), avaliar nesse novo paradigma é dinamizar oportunidades de açãoreflexão, num acompanhamento permanente do professor e este deve propiciar ao aluno em seu processo de aprendência, reflexões acerca do mundo, formando seres críticos libertários e
participativos na construção de verdades formuladas e reformuladas.
Se avaliar é sinônimo de melhorar, esta melhoria se refere ao aluno, ao currículo, ao
professor e, em definitivo...à ESCOLA.

Referências Bibliográficas:
HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré- escola
À universidade. 14ª ed. Porto Alegre: Mediação, 1998.
__________________. Avaliação mito & desafio: uma perspectiva construtivista. 29ª ed. Porto
Alegre: Mediação, 2000.
GIMENO SACRISTÀN, J. El curriculum: una reflexión sobre la práctica. 5ª ed. Madri : Morata,
1995.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens - entre duas
lógicas. Porto Alegre: ArtMed, 1999

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